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O que é envelhecer?

Atualizado: 24 de jul. de 2021


Com uma das mãos, após ler o jornal que recebia pelas manhãs, Helena retira os seus óculos que usava para leitura (queixava-se disso) pois na juventude não usara. E observa fixamente a paisagem da varanda de um quarto de hotel onde estava hospedada em frente ao mar. As folhas dos coqueiros movimentavam-se ora para a direita ora para a esquerda. O sol brilhava a areia do mar e as ondas no indo e vindo, fizeram com que Helena pensasse em seus 60 anos que acabara de chegar. Seus pensamentos eram muitos, olhava em suas mãos, sua pele já não era mais a mesma, estavam secas e sem vida, suas unhas que na juventude eram pintadas com cores fortes, hoje exibiam cores claras, amenas. Seus cabelos grisalhos lhe mostravam as experiências adquiridas pelo tempo. Seu corpo esbelto do passado, cedia lugar a um corpo modelado pelo tempo. A sensualidade de Helena estava no modo dela ser, exibia um sorriso marcante, o que mostrava ser uma mulher que alcançou a maturidade, conseguindo vivenciar e elaborar os conflitos vividos do passado e a conviver com a perda de seu marido ocorrido há dois anos. Em um sobressalto, se lembra que precisa tomar os seus remédios diários, hoje eles fazem parte de sua vida, o de reposição hormonal, pressão, e reumatismo, chegados pelo tempo.

O envelhecer é algo que faz parte do dia a dia de cada indivíduo, quer ele queira, quer não. Busca-se incessantemente meios para disfarçar as rugas, linhas de expressão, chás milagrosos, colágenos, tudo para retardar a chegada do temido “pé de galinha” para que ele não apareça ao redor dos olhos. Com algo temido assim, é evidente surgir uma crise existencial, a não aceitação à realidade, o envelhecimento.

Ao que parece a personagem Helena, criada para ilustrar o texto, nos mostra uma jovem senhora que após passar pelo luto e em férias de seu trabalho, resolve fazer uma viagem a fim de que aproveite cada momento de sua vida, mesmo só, consegue lidar com a solidão.

Envelhecer com sabedoria é acreditar em si mesmo, ter a segurança necessária para enfrentar os problemas, sejam eles quais forem, buscando meios para que seja feliz. Nessa fase, bons pensamentos são bem-vindos, não deixar de lado a família, os amigos, caso goste de animal de estimação ter um para companhia, curtir os netos, caso os tenham, enfim partilhar seus costumes, experiências, passear, participar de grupos comunitários. Enxergar o envelhecimento corporal como algo biológico, aceitar essa condição.

Sabe-se que com o passar dos anos, o físico da juventude fica registrado em imagens, vídeos, porém o que o indivíduo se formou ele leva para si, sua personalidade, sua vivência, seu modo de ser, pode ser melhorado ou prejudicado pelo tempo, dependerá de como foi construído ao longo de sua vida tais experiências. O tempo é implacável e para todos. O envelhecer deve ser algo vivido de maneira saudável, sem preocupações excessivas, cada fase, cada período, que seja vivenciado de maneira simples e natural. O interesse, o entusiasmo, a tranquilidade e o equilíbrio devem estar presentes durante esse processo.

O emocional em relação ao envelhecer deve estar estruturado, para que o indivíduo não se sinta desamparado, sentindo-se só e com baixa autoestima.

Após tomar seus remédios, Helena resolve fazer uma caminhada à beira mar, veste-se com um longo vestido azul, pés descalços e um chapéu que cobria o seu rosto pelo sol. A cada conchinha encontrada pelo caminho, sorria e não a recolhia, pensando: “Melhor não me arriscar a me abaixar...”

Pelo caminho, encontra-se com um senhor grisalho de meia-idade, pés descalços, vestia-se uma bermuda e camiseta de cores discretas, sorriso estampado em seu rosto, vai em direção à Helena e lhe oferece água de coco, que trazia em suas mãos, porém ela não aceita, responde com um simples obrigada e segue o seu caminhar, entretanto, momentos depois encontram-se novamente, após conversarem, compartilham juntos muitas histórias e um novo ciclo se reinicia, de partilha, compreensão, atenção, companheirismo, podendo chegar à novos planos, novos projetos... Por que não? O envelhecer pode ter seus momentos ruins, porém, conseguir viver com sabedoria trará benefícios prazerosos e únicos.


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